viernes, 12 de abril de 2024

Clara Lee Lundberg

Proposta Oficina-Espetáculo A poética corpo-que-sabe

Nesse Oficina-Espetáculo iremos pesquisar a potencia poética e performática de um ”corpo- que sabe.” Vamos explorar as diversas linguagens e expressões de nossos corpos pós-coloniais numa sociedade cada vez mais polarizada, marcada por um capitalismo cruel, com a finalidade de fazer um espetáculo de dança. Um espetáculo que tem que ver com empatia e memória, um espetáculo aonde vamos criar um laço empático com o outro, fazer o outro lembrar, e lembrar juntos. Vamos deixar marcas (no palco, no corpo, no público) que provoca reflexões, imprimir rastros, e tentar sensibilizar o nosso corpo-que-sabe.

O termo “corpo-que-sabe” vem da psicanalista, curadora e critica de arte brasileira Suely Rolnik. Ela fala sobre o “retorno do corpoque-sabe”, e segundo ela ”o corpo-que-sabe” é o corpo que sabe os efeitos do outro no próprio corpo.

Ela toma como exemplo o ritual antropofagical-canibalismo do povo Tupi-Nambá. Quando o povo matou “o outro” (colonizador européio) o homem que matou (o responsável pela execução) aquele “outro” não podia comer a carne do corpo morto. Ele tinha que se afastar do grupo para fazer um retiro de vários meses para viver as conseqüências do que ele tinha feito, refletir sobre os efeitos do outro no corpo dele. Quando ele voltou para seu grupo ele ganhou um novo nome e também ganhou novas tatuagens. Esse ritual de canibalismo era a única política de paixão que os Tupi-Nambás não queriam abandonar, não podiam abrir mão dessa prática.

Uma das micro-políticas coloniais era forçar os Tupi-Nambás a deixar essa prática, era “o recalque do corpo-que-sabe”. Na memória do corpo está inscrito os traumas do recalque do corpoque-sabe.

Suely Rolnik escreve:

“O recalque do corpo-que-sabe é a violência maior do empreendimento colonial, da perspectiva micropolítica. Tal operação encontra-se na medula da cultura moderna ocidental que se instaura com a colonização e ainda hoje nos estrutura. Os efeitos tóxicos deste recalque chegam agora ao limite gerando o tsunami da atual crise mundial. Criar as condições para o retorno do corpo-que-sabe – livre das sequelas de seus traumas –, torna-se assim tarefa incontornável de resistência ao atual estado de coisas. Não se trata de futurologia: sinais de tal retorno vem insinuandose ao “sul-global”; um sul que são vários e cujos contornos não se limitam geograficamente. São lufadas de oxigênio pensante nos pontos de asfixia vital de nossa contemporaneidade redesenhando incansavelmente suas paisagens. Não seria precisamente esta a potência política própria da arte?”

Então, sensibilizar esse ”corpo-que-sabe”, lembrar juntos, e usar essa memória coletiva num processo criativo vai ser o nosso ponto de partida para a oficina e o espetáculo com o mesmo nome:

A poetica do corpo-que-sabe

Algumas perguntas iniciais seriam:

Quais são as relações entre corpo, memória, música e movimento? Como podemos usar a memória coletiva num processo criativo? Qual é a diferença entre reproduzir e interpretar as coisas que nos sucedem? Estamos performando a realidade, ou é a realidade que nos performa? Nesse oficina-espetáculo iremos trabalhar com técnicas de movimento como por exemplo Tuning Score, Contato improvisação, Yoga, Release, composição coreográfica, danças afrodiaspóricas e métodos de respiração e relaxamento.

Clara Lee Lundberg

domingo, 7 de abril de 2024

CV Clara Lee Lundberg

Dançarina, Coreógrafa, Artista multidisciplinar. Mestra em NPP (Novas Práticas Performáticas) com especialização em Coreografia pela UNIARTS (University of Arts of Stockholm), Suécia.

Clara Lee Lundberg tem um interesse particular em pesquisar sobre memória corporal, relações sócio-politicas, estruturas neocoloniais, e produção de teorias filosóficas. Seu trabalho está influenciado por filósofos e pensadores como Suely Rolnik, Jean-Luc Nancy, Frantz Fanon, e bell hooks.

Trabalha como bailarina e coreógrafa profissional desde 2005, seus trabalhos foram apresentados em diversos teatros, galerias e festivais como Face a Face (Parque das Ruinas, Rio de Janeiro),Teatro Ipanema (Rio de Janeiro) Encontro Hemisférico (São Paulo),Centro Coreográfico (Rio de Janeiro), MDT (Estocolmo), Festival Montañas no Centro Cultural Borges (Buenos Aires), Festival Baixo Centro (São Paulo), La Casa Encendída (Madrid), Chapitô Teatro (Lisbon) and Festival de Danza Video & Habana Vieja: Ciudad en Movimiento in Havanna (Cuba).

Se formou e estudo com coreógrafos/as e professores/as como Lisa Nelson, Gustavo Ciriaco, Helmut Batista, Carmen Pereiro, Aline Bernardo, Ricardo Neves, Khosro Adibi, DD Dorvillier, Ko Murobushi, Andrew Harwood, Natalia Tencer, David Zambrano, Marlene Miller, Charmaine, LeBlanc, Ori Flomin, Martin Keogh, Mey - Ling Bisogno, Edgardo Mercado and Isabelle Chade.

Ministra aulas, oficinas e palestras no Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro, Florianópolis), Argentina e Suécia.


Espetáculos, oficinas, residências e outros trabalhos realizados no Brasil:

Oficina-Espetáculo ”A poética do corpo que sabe” no 1:o Encontro de Artes Convergentes. Julho 2016, Ribeirão Preto.

Solo performance “Direito de sambar - sobre samba, sexualidade, clichês e violência” no festival “Face a Face”. Abril 2016 no Parque das Ruinas, Rio de Janeiro.

Performance Lecture “It ́s black, it ́s white, yeah yeah yeah” no Acervo África. Março 2016, São Paulo. Performance Lecture “It ́s black, it ́s white, yeah yeah yeah” no Capacete Programa de Verão. Janeiro 2016, Rio de Janeiro.

Espetáculo ”Is this Brazil” em colaboração com a dançarina e coreografa brasileira Mariana Pimentel no Teatro Café Pequeno. Fevereiro 2015, Rio de Janeiro.

Oficina ”Hackers de gênero na cena -Laboratório Genderhackers” no festival Vertice. Abril 2014. Florianópolis.

Residência artística na Nuvem (estação rural de arte), Visconde de Mauá, 27 de Janeiro – 2 de Fevereiro 2013. O projeto realizado na residência se chamava ”Urbanismo tropical, tropicalismo urbano – micropolíticas de corpos e sons ”, e procurava pesquisar e explorar a sonoridade e corporalidade em contextos urbanos – tropicais.

Oficina-Espetáculo ”Corpos em ocupacão da Luz” em colaboração com a arquiteta Lina Färje no programa Intervencões Urbanas na conferência “Corpos, Cidades, Açoes” em São Paulo 12-19 de Janeiro 2013, organizada pelo Instituto Hemisférico (Hemispheric Institute, New York). A instalação “Corpos em ocupacao da Luz” é um trabalho sitespecific e foi realizado em cooperação com o MSTC (Movimento Sem Teto Centro) no prédio Mauá no bairro Luz no centro de São Paulo.

Residência artística no Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro entre Outubro-Novembro 2012.

Solo performance ”Luana is present” no Teatro Ipanema. Dezembro 2012, Rio de Janeiro.

Exposição coletiva ”Sala de Maravilhas” no Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro curado por Gustavo Ciríaco. Abril 2012, Rio de Janeiro

Oficinas e aulas de contato improvisação, composição e técnica Tuning Score nos espaços Centro Cultural Laurinda Lobos e Espaço Mova, 2012-2015, Rio de Janeiro.